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segunda-feira, 15 de julho de 2013

O MAU USO DAS PALAVRAS.



Por vezes me sinto um cara (indivíduo) em um puta lance sinistro (perfeita desarmonia) com a manha (adaptação) de papo reto (frases de efeito) ou lances (expressões) da hora (contemporâneas). A baixaria (vulgarização) da sacada do papo (vocabulário) e a armação (associação) ou vacilo (dissociação) da letra (vocábulos) me deixa mal (causa um profundo desconforto) na parada (interpretação) e na minha figura (postura) na vibe (diante da) galera (sociedade). 

Não sou um ignorante (aquele que desconhece) ou um retrógrado (quadrado), mas tem gente que abusa da liberdade da escrita pra falar do que não sabe ou do que até pensa que sabe de forma dúbia e grosseira.

Denominar, isto ou aquilo com a substituição de vocábulos torna-se um grande risco de gerar este desconforto na comunicação entre as pessoas e a sociedade em suas fragmentações.  Conhecemos uma experiência semelhante numa brincadeira bem antiga, o chamado telefone sem fio, onde a prática da comunicação é adulterada de forma a provocar uma interpretação errônea da ideia original da fala.

 Algumas palavras até que representam uma ideia correlata, como exemplo: Morcego = vampiro = aquele que suga o sangue de outro ser vivo. Aquele indivíduo que não quer fazer força e se aproveita do esforço alheio. Mas Morcego também nos remete à ideia daquele que passa o dia descansando, de pernas para o ar, daí a expressão morcegar.

E com o advento de Sucupira, em obra de Dias Gomes, onde certo político de alcunha Odorico Paraguaçu não obstantemente começou a denominar a “imprensa marronzista de maledicente, isto também deve ser obra da esquerda comunista, marronzista e badernenta". Assim, permitia por esta forma de comunicação em desvio à oportunidade de um povo cuja cultura é precária em relação à leitura, hábito que não comunga a maior parte da população em tudo ser transformado em nome da tal licença poética.

Esta liberalidade da expressão da língua portuguesa acaba por criar situações adversas. A permissividade ocasionada desta abertura tornar-se-ia com o tempo, até em linguagem literária e latente na comunicação interpessoal e adquire hoje, forças nas redes sociais. A ferramenta da disseminação progressiva e continuada de tudo ou o quase tudo.

Não sou Linguista, nem tão pouco professor de português, mas me dói aos ouvidos metáforas de precária conotação, ou que de forma generalizada que denigre, deprecia, despreza, desdenha, ofende e demonstra de forma grosseira, obtusa, valores de tradição, de cultura de um povo, de história e de vida.
Faz-me sentir assustado diante de quão fraca é a mentalidade do homem, quando se deixa por uma manobra lúdica, se influenciar e de forma jocosa e inábil e transferir esta imperícia da especialidade que não lhe cabe e se julga por mérito capacitado a dissertar sobre o que desconhece, quando isto só lhe traz o apetite insaciável da autofagia da sua ignorância.

Isto faz da cultura do país uma cultura ogra? Não sei. Mas não me atreveria a denominar ou a rotular isto ou aquilo de ogro, até porque, o significado da palavra ogro fora da conotação dos contos de fadas trata-se de qualificar, designar, rotular de feio, mal-educado, grosseiro, descabido, demônio,  ignorante, estúpido, bobo, forte, bombado, e outros adjetivos mais que realmente não cabem neste ou naquele diálogo, principalmente na gastronomia.

As referências e os olhares se alternam a cada substituição. E estas inferências subjulgam comportamentos, hábitos de vida, gostos, preferências, e até mesmo conduzem a uma formação de opinião. Onde definições de significado podem expressar claramente a relação criadora e criatura como a seguir nestes exemplos: “Monstro, demônio, nos contos de fadas, ser gigante, que se alimenta de carne humana. Com cérebro reduzido, o que pode explicar seus atos de insanidade, falta de competência e capacidade mental reduzida, curandeiro, feiticeiro” e “No sentido figurado, a palavra ogro pode ser utilizada para designar um indivíduo corpulento, com atitudes grosseiras e que não sabe se comportar socialmente.”

Ora, Quem em sã consciência gostaria de conviver com amigos com estes hábitos? Cenas dantescas e que remetem aos pensamentos e retratações de épocas medievais e até mesmo ancestrais, de figuras que não sabem se portar à mesa. Ah! Mas temos o “finger food”, sim, prático descontraído e despojado, segurar um canapé não é igual a segurar uma perna de javali entre os dentes. 

Mesa farta num país de miséria ou em qualquer outro local desta terra não pode ser ogra. É no mínimo ser um míope social. Nomenclatura e regionalismo sempre terão como feridas abertas numa língua viva estas situações. Mesmo nas línguas que são tidas como mortas às expressões ainda são revividas de forma referencial, caso da ciência jurídica que lança mão do latim em suas notas.

“Educação é coisa de berço”, o dito popular, simplicidade por Mario Quintana diz: “Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça de que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.” 

O pitoresco cai bem nos momentos de lazer, nas rodas de amigos, em situações de descontração. E no dia-a-dia? É divertido, na mureta ou caixote se sentar, puxar para si o tapume como mesa de banquete, abrir o farnel e cará e arroz transbordar o prato. Carne? Nem a rabada hoje pode ser, pois o preço é de iguaria. Mas é sofisticado descarnar dos ossos deste apêndice bovino e dar-lhe o nome italiano de ragu.


O milenar macarrão que do trigo se fez, mesmo que só ao alho se uniu bem feito e AL dente se apresenta, é coisa de Chef? Não, de cozinheiro, mas dependendo da cadeira onde se toma assento a o prato é aplaudido e assinado. Da mesma forma mile fogli de pasta fresca, ripiena de mozzarella e pomodori AL sugo. Falsidade ideológica? Também não, é só a nossa bela lasagne ou lasanha.

Coisa de pai e de avó, de sentimento de hospitalidade e de generosidade, a mesa é posta, esta farta, coma a vontade, quantas vezes quiser. Isto é educação, é se portar à mesa. Daí a fazer uma escultura com percentual de ocupação da área de abrangência do prato para que se tenha o prazer de comer, denota a ausência dos alunos na aula da disciplina em questão.

Mas ligue o GPS gastronômico e tente encontrar um destes locais com as coordenadas “Nivel tal...” ou “Setor Leste....”  Meus amigos, Shopping tem regras, manuais de instalação, manuais de praticas de serviços e ali sempre se terá um público alvo, regido pelas figuras do marketing, de uma associação de lojistas que se prezam e se agrupam para defender interesses comuns com altos fins lucrativos, pois preço de aluguel de metro quadrado não harmoniza com prato cheio ou com decoração considerada decadente e que fogem aos padrões. É sim o templo da deprimente alimentação desbalanceada, com seus sanduiches gigantescos, seus combos inflacionados, e crianças obesas e pais desatentos. Isto é deprimente.

Se a comida é boa, saborosa, apetitosa, não cabe mesmo o nome de ogra. Comer todos os dias, claro que pode. Deixe de ser sedentário, faça exercício, faça caminhada, como com educação e moderação. E ai não estará de diante de uma comida politicamente incorreta.  Desculpe-me a falta de jeito, mas tratar as rabanadas, bolinhos de bacalhau também de coisa ogra, não combina.  É desrespeito á cultura de outro país. Mas claro tudo vai depender da companhia, e do tamanho do seu prato e do seu pecado, o da gula. 

Não entendo enaltecer a gastronomia de um lugar em um momento e depois dizer que é politicamente incorreta. Chamar de comida que não requer etiqueta. Incoerência ou desconhecimento gastronômico. Interesse pessoal ou politicamente habilidade de trânsito social. Salve os bares, botecos e botequins da cidade dos prazeres das comidas de raiz, receitas familiares e de histórias e causos. Nem a cenografia ai se torna candidata ao Oscar. Será que quem abriu as portas sabe o que é ogro?

E a imprensa, esta é ogra? Sei não, quem sabe! Se seu papel é informar com veracidade, quando se sucumbe aos prazeres monetários esquece o que é a verdade e trata o assunto como mera poesia, crônica da vida miserável, ou das extravagâncias dos notívagos que antes de se recolher saídos das baladas precisam de sustância para ter o sono reconfortante. Ou mesmo dos que nada sabem do assunto, mas se divertem falando mal do que é cultura.

Então vamos “filar a boia”, tem coisa melhor pra se dizer quando a mesa é boa, na casa de amigos, a cozinha é saudável, feita com carinho e amor?! Claro que não, até comer de capitão pode parecer fino, é “finger food”, ou vai dizer que não? 

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