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1ª Associação de Chefs do Litoral do Paraná

Recebemos o títulos de Master Chef.

Mignon de coelho

Rolinho de mignon de coelho em laminas de pata negra com portobelo grelhado e aspargos verdes sobre veludo de batatas e gema cozida em baixa temperatura.

quarta-feira, 18 de março de 2015

A humilhação das panelas...

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Para todo profissional, seus instrumentos de trabalho são objetos de adoração, de veneração. Da igual forma em que um bisturi representa a habilidade de um cirurgião, a caneta para um professor, uma câmera ou um microfone para um jornalista, e um martelo para um carpinteiro, as panelas são de igual valor para um cozinheiro.

Durante muitos anos a cozinha na cultura da humanidade teve papel contundente na simbologia da formação e na apresentação das classes sociais e da própria conotação de ultimo rincão na estrutura física de um lar.

Cozinha sempre lembrada como local de escravos desde os imemoriais tempos da Roma antiga ou Grécia chegando ao nosso conhecido período colonial e aos nossos dias, gerou sempre o pertencimento do local onde se era e é gerado o fruto dos prazeres dos imperadores, senadores, reis e príncipes, bárbaros, cristãos ou de qualquer outra religião, senhores de engenho e outros abastados da monarquia ou república.  
Preparar alimentos para a engorda dos que se banqueteiam sem saber o quanto se cansa ou se dedica para que a mesa posta lhes ofereça prazer e saciedade.

Atrelado a este conceito de servidão laboral, poucos os que atingiram o glamour ou as graças destes glutões insaciáveis e se destacaram com regalias e poderes nesta hierarquia, utilizando-se de ferro, bronze ou barro, porcelana, vidro, madeira ou folhas, talheres de prata ou ágata, mas sempre presentes as panelas.

Até nos contos de fadas, a beleza de uma linda donzela se declinou a lavar panelas e o chão de uma velha cozinha. Tê-la nas mãos é sinal de castigo, de humilhação, de fatal de destino social recluso nos fundos da casa. Cinderelas brancas, negras ou mestiças, ajudantes camundongos, sempre o local de submissão e de expurgo social, mas ainda o que prepara o banquete. Até mesmo a abóbora que se faz vez de panela para camarões se transforma em carruagem real, mas o sonho dura pouco e se transforma ao soar das horas.

E de nada adianta a evolução do homem e das mais modernas tecnologias, a figura dela ainda assim se é retratada como o símbolo da submissão, do xingamento, da humilhação pública. Quanto mais moderna, ..., se de inox for, acústica fantástica em fundo triplo, de alumínio ficam na ala destinadas aos percursionistas ritmistas tal qual numa bateria de escola de samba.  Seja ele, chicote rijo de colher de pau ou de prata, fato é que a panela esta apanhando, esta nas mãos de seus senhores e sendo espancada pública e vexativamente humilhada diante de todos, e quanto mais às burras tem moedas, maior é o gosto em seu espancamento, pois o poder ali se da com a demonstração de quem faz a sua escrava panela urrar mais alto.

Filosofia barata, sonho, devaneio, ilusão. Mas a panela mais uma vez na figura mimética de uma classe foi mártir da história, teve de vulgarmente mostrar sua bunda nas janelas e ser chicoteada pelos seus senhores e senhoras. Panela que na sua forma côncava remete ao aconchego de um colo materno, na cavidade de um útero que gera, ou prepara o alimento que irá nutrir suas crias foi colocada como o símbolo de escarnio e poder.

Sejam quais forem os seus serviços prestados, não importando se por centenas de dias servistes para alimentar tais glutões, serás sempre utilizada de maneira pejorativa e como estandarte do poder. Grite, urre, mas demonstre com carinho que é forte e que não importa o quanto apanhes, não importa o quanto chores não serás covarde de se retirar de cena. Apanhas hoje, mas amanhã te imploram para voltar a fazer o que sabes fazer.


Queria ver se outro instrumento teria garra igual a tua. Se em outra profissão um símbolo seria tão forte ao ponto de ser espancado ter voz e atravessar milênios. A vocês, panelas, só mesmo quem convive sabe dar-lhes o valor e o respeito merecido. Eles se esquecem de que se vocês estão vazias, ocas, podem ser fatais, podem fazer até reis definharem e à cova deitar-se.