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quinta-feira, 10 de abril de 2014

O elefante do Circo

  

Respeitável público! Temos a honra de apresentar a vida. Arquibancada lotada, rostos iguais, pálidos sem nenhuma maquiagem e testemunho de lentes de um lambe-lambe. Destaca-se tão somente o rosado nariz que parece sofrer de renite.  Única cor que cria a dualidade da expressão do que passa diante das opacas retinas entreabertas.
Bilheteira, a mulher picota no mesmo movimento como se fossem uma máquina as tirinhas de cupons que deveriam ser o passaporte para o espetáculo por debaixo da lona. Mas o mudo pedido de socorro não é ouvido pelos surdos ouvidos de todos que ao redor catatônicos se postam.  E quem grita? Quem pede socorro em local de alegria e de brincadeira?
Se for uma criança não se sabe na escura penumbra, grande é a sombra que se forma com a lanterna na mão, fardado, o infante anão tenta ser a expressão da postura altiva e ambígua que observa bem de perto, mas que nunca alcança os objetivos e as ordens de seu menestrel.   Malabares como fogueiras, brincam de mão em mão como se queimar fosse. Em cada garrafa em chama, sentimentos guardados prestes a explodir a cada lançamento ao teto do pano.
Cada qual ali, em seu canto da lona ao redor do picadeiro, cada qual permanece. E o elefante do circo, vem e se senta na tina, eleva seus pensamentos e recebe a recompensa.  Levanta-se e prossegue em sua maratona a circundar o picadeiro e volta a sentar-se na tina e mais uma vez, recebe a recompensa.  E vem o outro elefante e estranhamente, se une aos mesmos movimentos sequenciais nada matemáticos e repetitivos sem sintaxe de concordância e de regência e ou qualquer referência de justificativa de origem psicótica ou condicionada. Tudo se torna desconexo, e prolixo no pensamento daquele cérebro paquiderme que evita qualquer esforço metabólico. Seu olhar é triste, acabrunhado, seus movimentos configuram uma enfermidade demente, sim pode ser branda, mas uma demência com certeza gerada pela falta de perseverança ou liberdade de pensamentos.
Agora são três a se segurar pelo rabo como se braços fossem e seguem na mesma trilha, no mesmo sentido, mas em compassos diversos. Indivíduos que têm suas identidades preservadas, suas posturas são semelhantes, mas ao mesmo tempo diferentes, ora pensam ora se deixam conduzir. Só se manifestam ao receber a recompensa, mesmo assim a cabeça só sabe fazer movimentos Norte Sul e o corpo em gangorra autista.
Migalhas saídas do bolso sujo e maltrapilho do mestre de cerimônia, conhecido por Condicionador Superior que é o cargo em carteira, referencial nada agradável, que mete medo e assombra a todos. Abusador da boa fé, da inocência e da docilidade que tinham os elefantes, paquidermes ou não. Transformados em zumbis simpáticos, porém a beira de um ataque. Perigo constante. Pesados sim pela consciência, onde muitas coisas fora de padrão e ética foram feitas e atos praticados por eles em nome de outrem.


Pobre, pobre, pobre, bicho homem elefante, sua face é a de um embriagado ser sem rumo e direção em vórtice trocou suas manhãs para agradar alguém que nem nome tem, trocou seus dias a favorecer aos outros, se esgotou em noites a fio para que ao branquejar do dia seguinte ao quinto alvorecer mensal devendo ser útil, por três amendoins mirrados, franzinos receber pelos serviços prestados. 

Pobre bicho homem elefante se prestou ao papel mais medíocre da tua existência agora sentado na tina vê a vida lhe ser pesada e nem um pouco engraçada.
Por Carlos Baldo


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