A cada dia detalhes do mundo
gastronômico querem tomar forma de lei.
Mas quem é este ser supremo contemporâneo que tem o poder de ditar tais
leis? Aliás, ditar lembra o radical da
palavra ditador e isto nos remete ao autoritarismo e cerceamento da liberdade
de expressão.
O que para mim não é
palatável. Algumas situações ou
comentários causam incômodo pela forma com que são abordadas e soam de maneira
prepotente e arrogante. Para um Chef de
cozinha, em seus devaneios gastronômicos, seu momento de clímax é o da montagem
de seu prato. É o momento da criação e da criatura. Um instante de magia onde o melhor dos
sentimentos de quem ficou na cozinha pesquisando, estudando, e literamente
suando, consegue transmutar seus pensamentos e ideias em algo concreto, um
conceito, o seu prato.
Assim, este momento deve ser
respeitado, é um momento de consagração de uma ideia. Mas existem regras de criação? Não consigo conceber a ideia de que eu
poderia ousar a me dirigir a um mestre da pintura e dizer a ele ou ditar regras
de como suas pinceladas ou como as cores devam ser utilizadas em uma tela. Mas
ai virão-me dizer que existem tendências, e que tendências devem ser seguidas. E como devo proceder?
Pegue a lista dos melhores do
mundo e veja o que eles estão fazendo e então siga. Ora isto é veja o que eles
estão fazendo e copie e cole. Control C/ Control V na gastronomia? E estes padrões, quem os definiu. Porque são
os melhores? Quantos definiram isto como
tendência.
O que é então, moda, modismo é a tendência
de consumo da atualidade. A
palavra moda que também significa costume e provém do latim “modus” pode adquirir força entre um
grupo de pessoas estabelecendo tais linhas de comportamento. Então o modismo
vai por este corte de que siga e será aceito. Se todos se vestem iguais, se
todos usam o mesmo tipo de roupa, você esta na moda. Se todos estão dormindo de
barriga para cima, que se dane a sua vontade de dormir de conchinha. Você
precisa se aceito, mesmo que ninguém te veja dormindo, mas se você necessita
disto então assuma que dorme de barriga para cima. Agora todos gostam de comer
fast food. E por isto você deixará de comer a sua lasagnha preferida. E se para
comer este fast food você tem de abdicar de suas convicções é hora de você
entender que você tem o poder de auto-pensar.
Criar, inovar, diversificar, diferenciar,
divergir, todas elas são consideradas características inerentes dos seres
humanos e um Chef de cozinha não é diferente de ninguém pelo simples fato de
usar um avental branco e um chapéu em forma de torre.
A globalização pode até ajudar na
troca de conhecimentos e informações, na agilidade e na versatilidade dos
procedimentos e técnicas, mas ela não pode fazer com que você pare de pensar e
de expor seu dom.
Buscar estas características que
te façam diferente é a tendência. Brincar com formas e texturas é a tendência.
Organizar e dispor os alimentos no prato como você idealizou, sonhou é a
tendência. A liberdade de expressão também serve e harmoniza perfeitamente com
este momento e com estas reflexões.
A gastronomia é feita de preparo,
de utilização de técnicas, de utilização de formas, de utensílios diversos e de
diferentes finalidades. Portanto não consigo vislumbrar este Deus ou Semi-Deuses
com tábuas de Moisés descendo o Pelourinho, ou a Paulista, ou qualquer montanha
de Minas ou Dunas de Natal ou Fortaleza, ou montado em um Cavalo branco
cavalgando pelos pampas, ou até numa prancha de surf saindo da crista de uma
onda, me ditando os dez mandamentos de como montar um prato, onde o poder da
criação é meu, a inspiração é minha.
Se assim fosse, a cópia seria a
chancela mais bem remunerada e valorizada de qualquer área de produção.
Estudar cases é uma situação de
momento, estudar clássicos é uma situação de enriquecimento de conteúdo
intelectual individual. E para ser clássico os padrões são muito elevados e foram
consagrados ao largo dos tempos. E ninguém disse a eles como deveria ser
montado seu prato.
Ter senso crítico e de estética é
de bom tom. Saber analisar a combinação de cores finais dos alimentos após o
preparo é conhecimento, combinar as texturas e sabores faz parte das aptidões
de um chef. É exercício de paladar.
Assim, compete a cada um definir como será sua apresentação, seguindo o
que é verdadeiramente tendência, ou seja, a orientação seguindo linhas gerais
tais como poderiam fazer parte desta diretriz: Leveza de apresentação;
sofisticação; centralização, sobreposição, apresentação de texturas diversas; equilíbrio;
montagem monocrômica; ou montagem em policromia; ponto focal; ...e por ai vai.
Rememorar Caremé (1784 /1833) e suas pièce
montée é possível sim, mas em situações especiais. Carême havia estudado
arquitetura e é creditado a dizer, referindo-se pièces montées, que a
arquitetura era a mais nobre das artes e que pastelaria foi a mais elevada
forma de arquitetura.
“O termo montée pièce é por vezes
utilizado para se referir à sobremesa também conhecido como croquembouche,
um conjunto de pastéis de nata (ou, ocasionalmente, outros tipos de doces ou
doces) grudado com caramelo ou açúcar fiado para um homem alto de forma,
geralmente cônica. Ao contrário do tipo de pièce montée descrito
acima, ele é feito para ser comido. É tradicionalmente servido em festas
celebrar casamentos e batismos na França”.
Cada um de nós tem um estilo, tem
uma linha de trabalho e uma visão do queremos apresentar, linhas curvas, retas,
formas geométricas, simetria, assimetria. Tudo pode desde que não se perca o
foco temático e que prejudique o principal item a ser apreciado. O sabor.
Algumas “regras” desta
terminologia de food disign são baseadas em evolução de quadrantes e de um
olhar fotográfico também.
Portanto, prestando a atenção
devida na concepção e na sua inspiração. Teste sua montagem levando em conta
estes informativos para melhor buscar a forma ideal de mostrar sua ideia, mas
isto não é lei, ninguém dita às regras. Apenas sugere.
O básico de qualquer procedimento
de montagem baseia-se no que eu considero fundamental em qualquer que seja a
situação: na educação. As quantidades
dizem muito sobre o prato. Diagramar e
esboçar em papel como você gostaria de ver seu prato é fundamental. Pense na quantidade, bocados são mais fáceis
de serem trabalhados a peças inteiras.
Se já passou desta fase, pense e
avalie que serviço você tem à disposição.
É uma porcelana clássica, existe profusão de cores? Eu prefiro sempre o branco clássico, pois é a
regra básica da criação de um artista. Lançar mão de uma tela em branco e esboçar
um sonho. Transforme os ingredientes na
sua mente e os transmute para cores e tente visualizar como isto ficaria com
aquilo.
Massas geralmente são de cor
pastel, vegetais como o próprio radical da palavra nos remetem temos as paletas
de verdes, e dos amarelos aos vermelhos encarnados. E proteínas muitas vezes nos trás as memórias
de um aconchego em função do calor, seja dos grelhados, ou dos braseados.
Os tamanhos dos pratos ou peças a
serem utilizadas também são importantes.
É como mobiliar a casa, se temos espaço os móveis ficam mais
adequados. Da mesma forma, os elementos
que irão compor sua montagem podem adquirir maiores destaques dependendo
exatamente disto, mas a colocação é você quem define.
Sempre pense que seu prato é a Top
Model que esta na capa da VOGUE, e esta sob o olhar de uma objetiva. Na fotografia existe a regra do ponto focal e
dos terços, então lance mão disto. É o
enquadramento, tente distribuir da melhor forma para chegar a esta
condição. Quadricular é o ideal para
visualizar a situação, estabeleça linhas imaginárias e disponha seus elementos.
Se o serviço, por exemplo, for um
Limoges Clássico, trabalhem com centralizações, visões concêntricas e acompanhamentos
em linhas tangenciais. Como sugestão, tente formas e montagens que lhe permitam
elevações, buscando aspectos tridimensionais. Se tiver à mão um Noritake também
clássico, tenha em conta de que a leveza da gastronomia a ser apresentada é
fundamental e muito elegante. Pois esta porcelana requer nobreza no servir e no
apresentar. Assim como as peças de borrão azul inglês ou os Enoch wedgwood "Avon Cottage" devem
ser estudadas previamente.
Existem também as técnicas do
relógio onde os ingredientes são direcionados em quadrantes ou horas para
simples visualização de fotogenia.
Enfim, seu prato é seu sonho, se
você o preparou com carinho, com prazer, com amor pela arte de cozinhar, com
certeza terá um belo prato. Estética de um prato apresentação é realmente a
fusão do bom gosto, da etiqueta, do conhecimento, da diagramação, do estilo e
da época, tudo isto combinado com o sabor e a técnica do chef de cozinha. E que
não venham a nos ensinar como se coloca a feijoada no prato. Basta ter comportamentos
sociais de equilíbrio e se servir em bocados demonstrando boa educação.
Por Carlos Baldo
Parabéns ... Carlos Baldo ... sensacional ... muito bom mesmo ... Abração !!!
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