Por vezes me sinto um cara
(indivíduo) em um puta lance sinistro (perfeita desarmonia) com a manha (adaptação)
de papo reto (frases de efeito) ou lances (expressões) da hora (contemporâneas).
A baixaria (vulgarização) da sacada do papo (vocabulário) e a armação (associação)
ou vacilo (dissociação) da letra (vocábulos) me deixa mal (causa um profundo
desconforto) na parada (interpretação) e na minha figura (postura) na vibe (diante
da) galera (sociedade).
Não sou um ignorante (aquele que
desconhece) ou um retrógrado (quadrado), mas tem gente que abusa da liberdade
da escrita pra falar do que não sabe ou do que até pensa que sabe de forma
dúbia e grosseira.
Denominar, isto ou aquilo com a
substituição de vocábulos torna-se um grande risco de gerar este desconforto na
comunicação entre as pessoas e a sociedade em suas fragmentações. Conhecemos uma experiência semelhante numa
brincadeira bem antiga, o chamado telefone sem fio, onde a prática da
comunicação é adulterada de forma a provocar uma interpretação errônea da ideia
original da fala.
Algumas palavras até que representam uma ideia
correlata, como exemplo: Morcego = vampiro = aquele que suga o sangue de outro
ser vivo. Aquele indivíduo que não quer fazer força e se aproveita do esforço
alheio. Mas Morcego também nos remete à ideia daquele que passa o dia
descansando, de pernas para o ar, daí a expressão morcegar.
E com o advento de Sucupira, em
obra de Dias Gomes, onde certo político de alcunha Odorico Paraguaçu não
obstantemente começou a denominar a “imprensa marronzista de maledicente, isto também
deve ser obra da esquerda comunista, marronzista e badernenta". Assim, permitia
por esta forma de comunicação em desvio à oportunidade de um povo cuja cultura
é precária em relação à leitura, hábito que não comunga a maior parte da
população em tudo ser transformado em nome da tal licença poética.
Esta liberalidade da expressão da
língua portuguesa acaba por criar situações adversas. A permissividade
ocasionada desta abertura tornar-se-ia com o tempo, até em linguagem literária e
latente na comunicação interpessoal e adquire hoje, forças nas redes sociais. A
ferramenta da disseminação progressiva e continuada de tudo ou o quase tudo.
Não sou Linguista, nem tão pouco
professor de português, mas me dói aos ouvidos metáforas de precária conotação,
ou que de forma generalizada que denigre, deprecia, despreza, desdenha, ofende
e demonstra de forma grosseira, obtusa, valores de tradição, de cultura de um
povo, de história e de vida.
Faz-me sentir assustado diante de
quão fraca é a mentalidade do homem, quando se deixa por uma manobra lúdica, se
influenciar e de forma jocosa e inábil e transferir esta imperícia da
especialidade que não lhe cabe e se julga por mérito capacitado a dissertar
sobre o que desconhece, quando isto só lhe traz o apetite insaciável da
autofagia da sua ignorância.
Isto faz da cultura do país uma
cultura ogra? Não sei. Mas não me atreveria a denominar ou a rotular isto ou
aquilo de ogro, até porque, o significado da palavra ogro fora da conotação dos
contos de fadas trata-se de qualificar, designar, rotular de feio, mal-educado,
grosseiro, descabido, demônio, ignorante, estúpido, bobo, forte,
bombado, e outros adjetivos mais que realmente não cabem neste ou naquele
diálogo, principalmente na gastronomia.
As referências e os olhares se
alternam a cada substituição. E estas inferências subjulgam comportamentos,
hábitos de vida, gostos, preferências, e até mesmo conduzem a uma formação de
opinião. Onde definições de significado podem expressar claramente a relação
criadora e criatura como a seguir nestes exemplos: “Monstro, demônio, nos
contos de fadas, ser gigante, que se alimenta de carne humana. Com cérebro
reduzido, o que pode explicar seus atos de insanidade, falta de competência e
capacidade mental reduzida, curandeiro, feiticeiro” e “No sentido figurado, a
palavra ogro pode ser utilizada para designar um indivíduo corpulento, com
atitudes grosseiras e que não sabe se comportar socialmente.”
Ora, Quem em sã consciência
gostaria de conviver com amigos com estes hábitos? Cenas dantescas e que
remetem aos pensamentos e retratações de épocas medievais e até mesmo
ancestrais, de figuras que não sabem se portar à mesa. Ah! Mas temos o “finger
food”, sim, prático descontraído e despojado, segurar um canapé não é igual a
segurar uma perna de javali entre os dentes.
Mesa farta num país de miséria ou
em qualquer outro local desta terra não pode ser ogra. É no mínimo ser um míope
social. Nomenclatura e regionalismo sempre terão como feridas abertas numa
língua viva estas situações. Mesmo nas línguas que são tidas como mortas às
expressões ainda são revividas de forma referencial, caso da ciência jurídica
que lança mão do latim em suas notas.
“Educação é coisa de berço”, o dito
popular, simplicidade por Mario Quintana diz: “Faça o que for necessário para
ser feliz. Mas não se esqueça de que a felicidade é um sentimento simples, você
pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.”
O milenar macarrão que do trigo
se fez, mesmo que só ao alho se uniu bem feito e AL dente se apresenta, é coisa
de Chef? Não, de cozinheiro, mas dependendo da cadeira onde se toma assento a o
prato é aplaudido e assinado. Da mesma forma mile fogli de pasta fresca, ripiena
de mozzarella e pomodori AL sugo. Falsidade ideológica? Também não, é só a nossa
bela lasagne ou lasanha.
Coisa de pai e de avó, de
sentimento de hospitalidade e de generosidade, a mesa é posta, esta farta, coma
a vontade, quantas vezes quiser. Isto é educação, é se portar à mesa. Daí a
fazer uma escultura com percentual de ocupação da área de abrangência do prato
para que se tenha o prazer de comer, denota a ausência dos alunos na aula da
disciplina em questão.
Mas ligue o GPS gastronômico e
tente encontrar um destes locais com as coordenadas “Nivel tal...” ou “Setor
Leste....” Meus amigos, Shopping tem
regras, manuais de instalação, manuais de praticas de serviços e ali sempre se
terá um público alvo, regido pelas figuras do marketing, de uma associação de
lojistas que se prezam e se agrupam para defender interesses comuns com altos
fins lucrativos, pois preço de aluguel de metro quadrado não harmoniza com
prato cheio ou com decoração considerada decadente e que fogem aos padrões. É
sim o templo da deprimente alimentação desbalanceada, com seus sanduiches
gigantescos, seus combos inflacionados, e crianças obesas e pais desatentos.
Isto é deprimente.
Se a comida é boa, saborosa,
apetitosa, não cabe mesmo o nome de ogra. Comer todos os dias, claro que pode.
Deixe de ser sedentário, faça exercício, faça caminhada, como com educação e
moderação. E ai não estará de diante de uma comida politicamente incorreta. Desculpe-me a falta de jeito, mas tratar as
rabanadas, bolinhos de bacalhau também de coisa ogra, não combina. É desrespeito á cultura de outro país. Mas
claro tudo vai depender da companhia, e do tamanho do seu prato e do seu
pecado, o da gula.
Não entendo enaltecer a
gastronomia de um lugar em um momento e depois dizer que é politicamente
incorreta. Chamar de comida que não requer etiqueta. Incoerência ou
desconhecimento gastronômico. Interesse pessoal ou politicamente habilidade de
trânsito social. Salve os bares, botecos e botequins da cidade dos prazeres das
comidas de raiz, receitas familiares e de histórias e causos. Nem a cenografia
ai se torna candidata ao Oscar. Será que quem abriu as portas sabe o que é
ogro?
E a imprensa, esta é ogra? Sei
não, quem sabe! Se seu papel é informar com veracidade, quando se sucumbe aos
prazeres monetários esquece o que é a verdade e trata o assunto como mera poesia,
crônica da vida miserável, ou das extravagâncias dos notívagos que antes de se
recolher saídos das baladas precisam de sustância para ter o sono
reconfortante. Ou mesmo dos que nada sabem do assunto, mas se divertem falando mal
do que é cultura.
Então vamos “filar a boia”, tem
coisa melhor pra se dizer quando a mesa é boa, na casa de amigos, a cozinha é
saudável, feita com carinho e amor?! Claro que não, até comer de capitão pode
parecer fino, é “finger food”, ou vai dizer que não?