O Sr. Comércio da Silva esta sofrendo com a doença de Alzheimer
“O Alzheimer é uma doença
neuro-degenerativa que provoca o declínio das funções intelectuais, reduzindo
as capacidades de trabalho e relação social e interferindo no comportamento e
na personalidade. De início, o paciente começa a perder sua memória mais recente.
Pode até lembrar com precisão acontecimentos de anos atrás, mas esquece de que
acabou de realizar uma refeição. Com a evolução do quadro, o alzheimer causa
grande impacto no cotidiano da pessoa e afeta a capacidade de aprendizado,
atenção, orientação, compreensão e linguagem. A pessoa fica cada vez mais
dependente da ajuda dos outros, até mesmo para rotinas básicas, como a higiene
pessoal e a alimentação.”
Lamentavelmente o Sr Comércio esta
sofrendo do mal de Alzheimer. O Sr
Comércio tem apresentado grandes e sistêmicas manifestações desta demência e
perda da capacidade de bem atender. Com atitudes grosseiras, em ficar prostado
nas laterais das portas de entrada da sua casa, como se fosse uma escora, por
lá ficar horas sem nada a fazer e negligenciando o por fazer, fumando seu
cigarrinho sem se quer prestar a atenção nos vizinhos e demais pessoas que por
ali passam, olham, observam, demonstram até interesse em perguntar algo, e até
perguntar se esta tudo bem.
Mas esta doença é mesmo traiçoeira, faz
com que quem a desenvolve se lembre de episódios do passado, mas de que adianta
lembrar que já foi um Campeão de Vendas, um Campeão de vezes onde teve sua
fotografia estampada em um quadrinho medíocre na parede acima do caixa onde
trazia a frase, “funcionário da semana” ou “do mês”, se não sabe e nem lembra
para que isto serviria? Hoje esta mesma frase poderia ser utilizada para
ilustrar sua lápide, ou melhor, seu epitáfio. Aqui jaz aquele que na adolescência
queria ser o melhor em servir aos demais, mas com o tempo tornou-se
simplesmente memória apagada.
Por tantas vezes, ele ligou para
demonstrar ser solícito, aparentar que estava preocupado em bem atender,
ansioso em entregar a mercadoria que havia vendido, perguntar se eu estava
satisfeito, se minha família havia gostado mesmo da escolha e da sugestão que
dera sobre a cor na porcaria do tecido do sofá. Ou do mau cheiro da carne que
havia sido entregue para o churrasco, mesmo que tenha sido na laje. Isto são
reminiscências de outros tempos.
Tempos em que se tratava pelo nome, dizia
que estava sumido e deveria aparecer mais vezes, convidar para tomar um
cafezinho ou mesmo servir num copo sujo com marca de batom uma água morna mesmo
que da torneira fosse tirada. Princípios de boa educação, treinamento, coisas
que um instrutor poderia ensinar.
Que pena sinto do Sr. Comércio, ainda jovem
mas em estágio avançado de demência, nem sequer pode ficar mais sentado à beira
da caixa registradora ouvindo sua música preferida, a do tilintar da moedas e
ficar dedilhando as maquinetas de cartões de crédito. Tornou-se uma pessoa perigosa, nos obrigando a
verificar até os cupons das registradoras, pois passou a não zerar as contas e
fica acumulando valores de terceiros na hora de somar as comandas de um próximo
cliente e apresentar para cobrança contas falsas.
Já perdeu a noção de que servir bem
significa marketing pessoal, significa que iremos indica-lo e sempre falar bem.
Devo desconsiderar ou ficar
irritado com os adjetivos blasfemados por ele? Tudo bem que nem sempre o
cliente tem razão, mas isto se resolve com inteligência, não somente com a sabedoria
de pessoas intelectualizadas. Basta saber e ser bom no que se faz para
contornar a situação. É que pena que o Sr Comércio esteja doente, que seus
responsáveis ou tutores o abandonaram na hora em que ele precisava de apoio, de
orientação. Que doença é esta que fez com que o Sr Comércio perdesse o senso de
realidade e se dirige a terceiros chamando de mentiroso. Quem burla o sistema e regras do jogo é que
realmente precisa de medicação, pois demonstram desvio de conduta e isto afeta
os relacionamentos. São sintomas que vão
se agravando a cada dia. Hoje fui eu o ofendido pelo Sr. Comércio. Amanhã será
quantos mais? A situação é alarmante, este impacto, no cotidiano da pessoa do Sr
Comércio afeta a capacidade de aprendizado, atenção, orientação, compreensão e
linguagem. Perdem-se as amizades, as fidelidades que foram construídas, esquecem-se
os momentos de reciprocidade das datas comemorativas. Mas em fim, cada um adoece
daquilo que não se cuida.
A obesidade proveniente da ganância do
ganhar pode ter sido um dos fatores que desencadearam este mal do qual hoje
sofre o Sr, Comércio. Atenção somente ao ganhar e engordar pode sim ter
provocado a desatenção do tratar bem, pode ter feito perder o foco de
orientação de suas metas e objetivos básicos e ter contribuído contundentemente
para a perda da linguagem correta do que o pai do Sr. Comércio com certeza lhe
ensinou.
Lamento, mas a educação que foi dada ao
Sr Comércio também foi afetada no seu conteúdo e na sua memória. Parece que os
efeitos colaterais desta doença não foram percebidos ou diagnosticados a tempo.
Será que os médicos dele não são bons o suficiente ou estudaram em escolas de
avaliação duvidosa? Inúmeros são os relatos de pessoas que como eu tiveram alguns
problemas com o Sr Comércio. Alguns mais graves outros menos, até casos de
fatalidade com vítimas, gerada pela ganância de sete reais. Mas agora se
levarem o Sr. Comércio a júri popular, como fica o veredito sobre uma
personalidade demente?
Monitorar o Sr Comércio faz sim parte da
nossa benevolência, fiscalizar seus atos, e até denunciar e pedir ajuda a
Polícia ou outro Órgão que seja de fiscalização de suas atitudes para sua
interdição. Devemos sim comentar com amigos, vizinhos, parentes sobre os fatos
ocorridos.
Este é sim o diagnóstico de um
quadro de saúde debilitada. Não desejo
ao Sr Comércio as palavras pronunciadas por ele ao insistir em repetir automaticamente
e insistentemente ao me ligar dizendo que queria falar com o responsável pela
linha. Típica reação ativa de um quadro de bipolaridade que no final da metralhadora
de insistentes e seguidas vezes dizendo que queria falar com o responsável pela
linha interrompe bruscamente seu colapso de conexões de neurônios pouco saudáveis
e lhe diz: “quer uma sugestão? Morra!!!!!” desligando a ligação estupidamente .
Com isto estou pensando, e
preocupado, muito preocupado mesmo. Teremos alguns grandes eventos internacionais
pela frente e com o Sr Comércio agindo assim, não vejo com bons olhos o que
pode acontecer. Seria muito bom que algum terapeuta tentasse fazer um trabalho
de tentativa para amenizar este agonizante estágio da doença. Sedar, não seria
uma boa ideia, nem fazer uma lobotomia, isto a doença já cuidou de realizar. Morfina,
ainda acho que não é um paciente terminal. Desejo sim que mesmo debilitado, incapacitado
de se auto gerir recobre um dia uma pequena parcela de sua memória e consiga
ver a instabilidade causada pela doença que adquiriu ao longo dos tempos.
Quero sim Sr. Comércio ver o senhor
de branquinho, limpo e com asseio, mas não numa camisa de força ou outra de onze
varas. Fico triste ao ver que o Sr. Após fazer a refeição ou mesmo em momentos
de descanso, vestindo sua beca que um dia foi branca, esta ali deitado sobre
aparas de papelão corrugado, junto a uma soleira, como um sem teto, em total
desalento humano, me fazendo lembrar do dito popular de que quem com os cães se
deita com as pulgas se levanta. Os espelhos e pratarias reluzem sim, mas os
maus tratos de quem os manuseia trazem a oxidação, o zinabre, que torna opaca a
visão de uma catarata. Miopia o Sr já sofre, quer também a catarata?
Dedico este texto aos proprietários,
gestores, administradores, pessoas de decisão de estabelecimentos comerciais
aos quais dia-a-dia estão crescendo as reclamações de atendimento por
incapacidade, por ingerência, por negligência, por falta de formação
profissional, por falta de educação básica na estrutura de pessoal de todos os
seus setores e áreas de atividade. Dos Hipermercados aos açougues de
bairros; dos Grandes Mercados aos sacolões e hortifrutis; das farmácias às
drogarias; dos ambulantes às grandes lojas de departamento, das lanchonetes aos
grandes estrelados e sofisticados restaurantes.
Carlos Baldo