Em cada caminho tem uma casa, em cada casa tem um cantinho. De cada cantinho, se vê um jeitinho. Pode ser de frio ou não de dia ou de noitinha, mas o caminho esta ali, bem à nossa porta, bem à nossa janela ou alvorada ou madrugada a janela a espreitar os causos da vida, o compadre que sobe ou o moça que desce o caminho batendo sola, até parece bichinho obreiro, formiga de formigueiro. Cupim cobiçado de obrar a massa batida como o chão com o sabor da terra.
É alvorada sem dúvida, o frio ainda no vidro escorre, como suor de quem trabalhou ou amou a noite toda. Esculpindo o suspiro da bouganville do penteado da namoradeira. Janela da curva seguinte, caminho do vai e do vem, da marmita e da pedra que apanha do formão e do ferro que se contorce, buscando a luz pra pender nas cabeças e espiar nas mesas o que se come , o que se conspira ou se trama para o dizer na praça e ao padre.
Tem resto ainda de neblina, friagem e do tal suor da noite que que refresca e apaga os gemidos ofegantes do amor da terra. Portinhola de tramela, arame de alça, porteira de segredos e de verdades, a luz ainda é forte no céu fraco. Terra fofa, folhas molhadas, cheiro de vida, a capuchinha se exibe disposta a se entregar á morte pelo prazer de ser apreciada, cheirada e degustada. Amarela ou vermelha, mostra seu jogo de cores num caleidoscópio quintal de enebriar a paixão do cozinhar.
E uma a uma, escolhida por seu algoz, se entrega de bandeja ao sabor do que a noite que não verá dará o prazer de quem a possuir.
Cúmplice ainda, murmúrios e buchichos, do estralar do verde cepo, arde e invade a boca de ferro atiçando e borbulhando a água que doce escalda o pó ferrugem cor da terra escura que perfuma a casa que ainda dorme, se espreguiçando por baixo de cada fresta e invadindo o leito de quem ali se entregou alta madrugada depois do trabalho e do prazer de misturar sabores e prazeres da mesa.
Mas cada casa tem uma janela, cada janela tem um causo.... Cada causo tem sua janela e tem janela que só tem namoradeira. Mas na vida que parece parada, parada e debruçada na bandeira da janela, muita coisa se vê, muita coisa de escuta.
De azul quase mediterrâneo, pintou-se o marco do olho da casa, dia de preguiça, dia de provar a vida como se um bichinho fosse, em seu casulo, toca ou morada. É dia se sol, festa no mar, mas ali mar não chega, ali o tal barquinho não navega, o chuá das ondas se troca com o "piui chachá" . Tem Maria Fumaça pertim dali, coisa de uma légua e meia. Coisa de mineiro mesmo.
Tem doce, tem sal, tem ovos e farinha pra fazer bolo ou broa, mas fica a cargo da vontade de vosmicê.
Boteco que aqui é Lei, em casa de coração grande é mais completo porque tem causo de raiz, causo de quem olha a vida pela janela da frente e das de lado. Olha pela porta do fundo e da soleira da entrada faz reverência pra Dr que passa. Pra moço e moça da capital daqui e de mais de légua.
Do ouro amarelo que derrama no copo, da espuma que faz a mente viajar na inspiração do comer e beber, do preparar e saborear, misturar sem pompa e circunstância, sem os salões imperiais de ouro e pedras preciosas da Áustria da moça Sisi que virou imperatriz as porcelanas são craqueladas pelo tempo e pela história, são coisas de Minas. A Mente balança feito pendão de canavial, em cristalina valsa de prataria nobre. Medalha e brazão de forja é a região.
Prazer de mineiro é poder contar causo e sonhar na janela de quem quiser se achegar pra saborear o que no fogão tiver. Sem faltar ao respeito, sentindo prazer de abrir o coração pra quem quer que no caminho passar, na soleira se deparar, e na janela acenar pra namoradeira de barro ou não. Mostrar que coração de mineiro é maior que qualquer trem que vai daqui pra lá ou de lá pra cá.
Esta janela aberta é dedicada aos amigos que participaram desta maratona num mundo encantado chamado Bichinho / Prados / Tiradentes- MG 2012